Prolit

a literary magazine about money, work, & class

Ken Loach

translated from the Brazilian Portuguese by Francisco Vilhena


Fred had not yet turned 60 when

He was found in the apartment

Of fewer than 60 square metres

Where he had been living for years

Alone.

Fred was unemployed

And even though he had an ex-wife and kids

Did not have a family

I don’t know the circumstances that made

Fred be so alone

I am aware that it is likely Fred was no

Angel

But Fred died very alone very drunk and very poor

In an apartment

In a city

That is Berlin

But it could have been any other city.

The building where Fred lived

Once belonged to the Stasi

the secret police of East Germany

And the Berlin Wall stood right in front of it

After the Wall ‘fell’

The building was sold to a private investor

That owns many other buildings besides this one (of course)

This building is where Fred came to live

Where Fred found his last home

A one bed studio flat

Where he built with his own hands

A big bunk bed of solid wood

From where years later he himself fell

And died

At a time where rent in Berlin was still

Affordable and empty flats were

Properly occupied: by punks, students, workers or refugees.

Fred’s upstairs neighbour

She really liked him

Her name is Eva Eva is

A former fashion journalist from East Germany

Looks like being a fashion journalist in East Germany was nice

Because without a capitalist market editorials were

Artisanal

The journalists themselves and the stylists would create something

And would sew the looks they wouldn’t need to

Advertise or lobby brands for

nobody needed to place an It-girl on the cover

Must’ve been great

(I recommend searching “Sibylle magazine”!)

Eva’s career as a fashion journalist

Did not thrive after the Wall fell

She said: ‘after all it was an ageist market that wouldn’t accept

Nor respect older women’.

I can imagine the Western fashionistas

Dismissing Eva’s unique expertise

Anticapitalist fashion journalist

Retired as self-employed

And today earning a pittance that she

Supplements by working

At 72 years of age

As a cook twice a week at a family home.

Eva came to live in this neighbourhood back when nobody wanted to

No café no corner shop

‘The one thing it did have was a bunch of drunks on the square’

Today Eva says ‘it’s better

There is more life and more young people in the neighbourhood

It has only gotten worse because the rent is getting higher and higher

And there are more and more people speaking

English in the building’

(Eva learned Russian not English)

Eva says that gentrification is bad, but it works

for women and old people

Because we benefit from the fact

That if there is life on the streets of our neighbourhood we are less afraid

Of walking alone at night coming home

After work

We just keep avoiding the square

That is still not properly lit

Because we know that street lighting is of interest to:

1) women 2) private property

If there is nothing of value on the square

Just a bunch of “unemployed drunks” and women returning home at night from uni or work

Why spend any euros lighting the public square?

If only they had a car dealer there

certainly a few lamps would already have been installed

Isn’t that so?

Gentrification is this then

It’s when the private sector

is the one investing in improving the neighbourhoods

‘Providing’ what the State should have provided

Making private what is in fact public

And the price we pay is high

(single mothers and old people are the first ones to get evicted)

And that is why housing activists

talk so much not just about the right to inhabit

But also about the right to the city

actually long live Kotti und Co., long live the London Renters Union, long live the MTST!

Recently trying to dribble the ‘Mietendeckel’ before its approval

colloquial denomination of the housing regulation and rent control law being

processed by the Berlin Senate

The private investor owner of this building

Has raised Eva’s rent

She was worried

And took her case to the Tenants Association

And later attended an informative event

With Katalin Gennburg

About landlord expropriation

#DW&Co.Enteignen!

But none of it helped

Eva solve her current situation

On top of everything else

Eva took a fall

And broke an arm

So she couldn’t work at that family home

And because she wasn’t working she had no way of

Supplementing her meagre pension

That Eva earns after having worked

Years and years

As a self-employed journalist

So she couldn’t afford the rise in rent.

Eva hasn’t lost her apartment yet.

Eva is my upstairs neighbour

And I live in the apartment where Fred used to live

And I sleep on the bed Fred built

And I have a soft spot for Fred

whom I never met

But whose handiwork produced a very nice bed

On which I sometimes lose sleep

Not knowing how will I pay next month’s rent

Or the increase in the price of heating

that despite being too expensive doesn’t really work and the landlord won’t fix

Sometimes I ask myself if Fred had ever been happy here

Just like I am sometimes but not always

I wonder if he also didn’t sleep

In fear of being evicted?

What is it that binds us, the three of us, besides an address?

I don’t really know.

I too don’t have a family here

I too work at other people’s homes

despite being a journalist

My pension will certainly be meagre as well

And when I am sad I drink alone in my flat, too.


Ken Loach

Fred tinha menos de 60 anos quando

Foi encontrado no apartamento

De menos de 60 metros quadrados

No qual vivia há anos

Sozinho.

Fred era desempregado

E apesar de ter ex-mulher e filhos

Não tinha família

Eu não sei quais circunstâncias levaram

Fred a ser tão solitário

Estou ciente que Fred não deve ter sido nenhum

Anjo

Mas Fred morreu muito sozinho muito bêbado e muito pobre

Num apartamento

Numa cidade

Que é Berlim

Mas que poderia ter sido qualquer outra.

O prédio onde Fred morava

Pertenceu outrora à Stasi

a polícia secreta da Alemanha Oriental

E o Muro de Berlim passava bem na frente

Depois que o Muro “caiu”

O prédio foi vendido pra um investidor privado

Que além deste tem muitos outros prédios (é claro)

Este edifício é aonde Fred foi morar

Fred aí encontrou sua última casa

Um apê quarto-e-sala

Onde construiu com as próprias mãos

Um grande beliche de madeira maciça

Da qual anos depois ele mesmo caiu

E morreu

Numa época que os aluguéis em Berlim ainda eram

Baratos e os apartamentos vazios eram

Devidamente ocupados: por punks, estudantes, trabalhadores ou refugiados.

A vizinha de cima de Fred

Que gostava muito dele

Se chama Eva Eva é

Uma ex-jornalista de moda da Alemanha Oriental

Ser jornalista de moda na Alemanha Oriental ao que parece era bonito

Porque sem mercado capitalista os editoriais eram feitos

De forma artesanal

As próprias jornalistas e stylists inventavam

E costuravam os looks que não precisavam

Fazer propaganda ou lobby pra nenhuma marca

ninguém era obrigado a botar nenhuma dondoca na capa

Devia ser massa

(eu recomendo buscar a revista Sibylle na internet)

A carreira de jornalista de moda de Eva

não vingou depois que o Muro caiu

Ela disse: ‘acima de tudo era um mercado etarista que não aceitava

Nem respeitava mulheres mais velhas’.

Eu imagino os fashionistas do oeste

Desvalorizando a expertise única de Eva

Jornalista de moda anticapitalista

Que se aposentou como autônoma

e hoje ganha uma minxaria que ela

Complementa trabalhando

Aos 72 anos

Como cozinheira duas vezes por semana numa casa de família.

Eva veio morar nesse bairro quando ninguém queria

Não tinha café não tinha lojinha

“A única coisa que tinha era um monte de bêbado na pracinha”

Hoje em dia diz Eva “é melhor

Tem mais vida e mais jovens no bairro

Só ficou ruim porque o aluguel vai ficando cada vez mais caro

E cada vez se fala mais inglês no prédio”

(Eva não aprendeu inglês aprendeu russo)

Eva diz que gentrificação é ruim, mas é boa

pra mulheres e idosos

Porque nos beneficiamos do fato

De que se tem vida nas calçadas do bairro temos menos medo

De voltar pra casa de noite sozinha

Depois do trabalho

Só continuamos evitando a pracinha

Que continua sem iluminação pública

Porque sabemos que iluminação pública é do interesse de:

1) mulheres 2) de propriedade privada

Se na pracinha não tem nada de valioso

Só uns desempregados e mulheres voltando de noite da uni ou do trabalho

Pra que gastar esses euros iluminando a praça pública?

Se na pracinha tivesse uma loja de carro

Certamente que uns postes já teriam sido instalados

Não é mesmo?

Gentrificação então é isso

É quando o setor privado

É quem investe na melhoria dos bairros

“Provendo” o que Estado tinha que prover

Tornando privado aquilo que na real é público

E o preço que pagamos é alto

(mães-solteiras e idosos são os primeiros a serem despejados)

E é por isso que ativistas da moradia

Falam tanto não somente do direito de morar

Mas do direito à cidade

aliás viva Kotti und Co., viva o London Renters Union, viva o MTST!

Esses dias tentando driblar o “Mietendeckel” antes dele ser aprovado

nome coloquial da lei tramitando no Senado de Berlim de regulamentação e redução

dos aluguéis

O investidor privado dono do seu prédio

Mandou um aumento de aluguel pra Eva

Que ficou muito preocupada

Ela levou seu caso pra Associação dos Inquilinos

E depois foi num evento informativo

Com Katalin Gennburg

Sobre expropriação dos grandes proprietários

#DW&Co.Enteignen!

Mas nada disso ajudou a resolver a situação concreta de Eva

Além de tudo Eva tinha levado uma queda

E quebrado um braço

Então não podia trabalhar na casa da família

E se não tinha como trabalhar não tinha como complementar

A aposentadoria xôxa

Que Eva ganha depois de trabalhar

Anos e anos

Como jornalista autônoma

Então não tinha como pagar o aumento.

Eva ainda não perdeu seu apartamento.

Eva é minha vizinha de cima

E eu moro no apartamento onde Fred antes morava

E eu durmo na cama que Fred construiu

E eu tenho muito carinho por Fred

que nunca conheci

Mas cujo trabalho braçal produziu uma cama muito gostosa

Na qual eu às vezes eu perco o sono

Sem saber como vou pagar o próximo aluguel

Ou o aumento do preço da calefação

que apesar de cara não funciona e o senhorio não conserta

Às vezes eu fico me perguntando se Fred foi feliz aqui

Como às vezes eu sou mas nem sempre

Será que ele também perdia o sono

Com medo de ser despejado?

O que será que nos conecta, nós três, pra além de um endereço?

Não sei direito.

Eu também não tenho família

Eu também trabalho na casa dos outros

apesar de ser jornalista

Certamente também será xôxa minha aposentadoria

E quando estou triste bebo sozinha em casa.


ADelaide Ivánova

Adelaide Ivánova is a journalist and activist from Pernambuco, Brazil. She co-edits the zine MAIS NORDESTE, POR FAVOR!, of radical poetry being written in the Brazilian northeast. In 2018 she won the Rio Literature Award for her fifth book, “o martelo”, which was later published in the USA by Commune Editions. In 2020 she was nominated for the Derek Walcott prize for poetry. She is an active member in the grassroots groups of the socialist parties PSOL, in Brazil, and Die Linke, in Germany. Since 2011 she lives in Berlin, where she earns her bread working as a baby-sitter, waitress, life model, security staff and other alienating jobs.